segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Quando os Cristãos perdem a razão



Marx impingiu à religião a insígnia de ópio do povo. 

Gilberto Carvalho, Secretário-Geral da Presidência, asseverou que o governo precisa se preparar para um embate ideológico com as igrejas evangélicas pela nova classe média. 


Nietzsche determinou o cristianismo como um ataque ao sentimento de potência do homem. Uma religião de fracos. 


Países como Coréia do Norte, Irã e Afeganistão refutam qualquer influência cristã em seu meio. Em alguns países, a perseguição resulta em morte.


Como cristãos,quando percebemos tais ataques, de relevância histórica ou não, ao sentimento religioso e ao cristianismo em especial, em um primeiro momento somos tomados por indignação e fazemos coro às reações mais extremas na defesa do que chamamos de sentimento religioso.

Ainda que não nos somemos aos cristãos fundamentalistas (esta expressão deveria ter outro significado...) do sul dos EUA no apoio ao esforço de guerra, torcemos por um mundo em que a Pax Americana reine em nós.

Lembro-me ainda dos tempos de infância em que temia por uma ameaça comunista, tão aventada pelos cães de guarda de nosso mundo pueril. Ao aproximar-se da maturidade, comecei a perceber que a verdade cresceu junto comigo e ofereceu-me outras faces. Faces coradas pelo sol no interior da América Latrina, depositório das escorchantes desgraças de um império que patrocinou mortes e golpes, na pretensa defesa de valores da tradição, família e propriedade, como nos ensinaria o nefasto movimento.

Percebi que em um mundo complexo e sem Deus, religião e Cristo podem ensinar coisas diferentes. Este anseia o amor, enquanto aquela o poder. Este representa o humilde servo sofredor, aquela a portentosa rainha Universal. Ele, um palestino pobre que enviou discípulos ao mundo. Ela, promíscua, rica e Mundial.

Iniciei então uma digressão no caminho da compreensão de que, por vezes o ódio ao Cristo é um sentimento nublado pelo ódio ao nosso cristianismo, que não deveria ter este nome. Imagino em minha fé as faces ruborizadas do Mestre ao perceber que vivemos o que Ele condenou e ainda o convidamos a avalizar nossas práticas, nossos hábitos, nossa mundologia (renego-me a chamar de teologia).

Tenho para mim então que, grande parte dos ataques e ojeriza à fé, são tiros que miram este imperialismo e indiferença transvestidos de religião que ricocheteiam e, tal qual as balas perdidas de nossas favelas e morros, acertam em cheio o peito de Cristo.

Quando um afegão renega tão veemente o cristianismo, quais são os símbolos que lhe vem à memória? O menino frágil e pequenino, de traços orientais no colo de Maria ou tanques de guerra com um adesivo atrás do tipo "sê tu uma benção" ou "renascer até morrer"?

Quando Marx chama a religião de ópio do povo, que religião é esta? A que apresenta a verdade e liberta ou a que manipula, cega, violenta e mata?
Enquanto não rejeitarmos nosso modo confortável de viver que se fundamenta em exploração de recursos e pessoas, que mata nas periferias mas que não incomoda nos Jardins, que se torna impassível ao sofrimento, que se reveste de burguesia consumista e reduz as relações pessoais a relações de consumo, seremos objeto do ódio do outro, do ódio ao Ocidente. Da perseguição ao cristianismo.
Continuo a me solidarizar e a orar por meus irmãos amados, que em países de maioria fundamentalista, são perseguidos e sufocados em sua fé. Estejam eles em Cabul ou Manhattan. 


Deus tenha misericórdia de nós.