domingo, 20 de junho de 2010


Torcer pelo Brasil de verdade é torcer para que entre em campo a decência e honestidade, que há muito se fazem ausente dos gramados!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Em defesa de Ricardo Gondim. Ainda que tardia. Ainda que desnecessária.


Ainda que anos mais tarde, interessante reler os textos e observar os registros acerca do polêmico texto de Ricardo Gondim sobre a tragédia do tsunami que abateu a Ásia em dezembro de 2004.

Manifestações veementes, textos convincentes, libelos em flagrante protesto à tibieza da fé de Gondim ao explicitar suas dúvidas, questionamentos e inquietudes frente ao inexplicável silêncio de uma pretensa razão teológica para todas as coisas. Incontinenti soaram conclames à uma suposta defesa da fé, atacada desta vez por um apostata insurgente dentre as fileiras do universo cristão.

Me emocionavam em tempos áureos tais convocações apologéticas. Sentia bafejar em mim o ardor dos reformadores medievais, dos primeiros cristãos, de todos os mártires que ofereceram suas vidas como sacrifício em defesa de uma doutrina casta, pura e ortodoxa. Eram heróis ao oferecem suas carnes em libação, moídos como trigos em dentes de leões para se tornarem em pão puro.

Porém, parece-me que ao chegar à vida adulta e não mais "sentir, pensar e discorrer como menino", num arroubo assomou-se em mim um processo avassalador de dúvidas e culpas, fragilidade e temor. As certezas foram sendo substituídas por dúvidas renitentes, as convicções por vicissitudes, o firme caráter pela tibieza.

Eis o paradoxo do homem, em que o humano se antepõe ao divino, pois enquanto crescemos Deus nos pede para sermos crianças, em que Ele permite apequenar-se, fragilizar-se para que o homem cresça e junto com ele suas dores, suas tristezas, seus fracassos.

É neste mundo que Deus nasce numa estrebaria cheirando esterco, passa seus dias de carpinteiro ferindo sua pele com farpas de madeira e termina pregado na cruz enquanto Herodes está assentado no trono e Pilato lava suas mãos.

É neste paradoxal mundo de Deus que me insiro e vejo que sobre minhas dúvidas se erige a minha fé. Não sou como o Mestre a dormir durante a tempestade mas como o pai desesperado que Lhe pede: ajuda-me na minha falta de fé.

Não sou inabalável mas me consumo a desejar ardentemente que, apesar das trevas que me rondam mas que não faço minhas, eu saiba que meu Redentor vive e que por fim se levante sobre a terra, que meus pecados sejam lavados pelo sangue do Cordeiro, que minhas culpas sejam levadas para um lugar de esquecimento.

E é neste mundo que se insere Gondim e suas inquietações, que faço minhas, sentindo-me parte não mais de uma religião hermeticamente fechada e à prova de questionamentos mas relacionando-me com um Deus que à sua maravilhosa luz são expostas minhas escuridades, meus temores, minhas inquietações, ciente de que a teologia que construímos e o deus que colocamos lá se difere do Deus que reconhece que sou fraco, pobre e nu.

Sinto-me mais próximo de Deus ao reconhecer que não tenho todas as respostas para as dores do mundo pela simples razão de que minhas limitações e meu pecado me impedem de ser como Ele é. Arrogar-me o direito de pensar de forma diferente e conceder tal prerrogativa à teologia construída pelos homens soa-me presunçoso, eufemismo para uma postura quase luciferiana.

E é por isso que preciso dEle. Não para responder minhas perguntas ou ratificar minhas convicções mas para que eu diminua e Ele cresça.

Soli Deo Gloria

domingo, 18 de abril de 2010

Missão Integral. Redundância!


Poderíamos mudar o mundo. Sem pretensões megalomaníacas, o que começa em Jerusalém tem poder para se estender até os confins da Terra. E assim timidamente iniciamos algumas de nossas missões.

Algumas dessas missões são pobres, podres e nefastas. Missões das cruzadas que mataram gentes e incediaram populações inteiras pretensamente em nome do resgate de Jerusalém, a cidade do grande Rei.

Missões de jesuítas cúmplices do genocídio ibérico praticado sobre estas plagas, das colônias de exploração, do Jesus inerte em suas insígnias ao vislumbrar o violento massacre dos pagãos.

Missões de povos do norte imbuídos de um espírito mais empreendedor do que santo e que sob os auspícios de uma política internacional impositiva e hegemônica, impuseram o cristianismo de consumo sobre populações inteiras de incautos, que inda se prestam a traduzir para seu vernáculo suas obras-primas que ensinam como enriquecer, ser bem sucedido ou até mesmo interpretar a Bíblia sob as óticas da "vitória financeira e batalha espiritual".

Em reação a estas "missões" surgiu o conceito de Missão Integral esposado por sérios e devotados cristãos que, cansados de verem a deturpação do ide, buscaram rediscutir o papel do evangelho e dos cristãos no mundo. Um mundo que ainda grassa na miséria e no desamor. Miséria que não contente com os dias famintos ainda impõe noites de solidão no imenso paradoxo das grandes cidades.

Com a devida vênia, me oponho a este conceito por uma simples razão. Em defesa da fé devo dizer que seria impossível chamar de missão aquilo que não demonstrasse de forma inequívoca o amor do Mestre, sua paz sendo deixada em cada cidade, sua presença como um cheiro suave, como da Rosa de Sarom, a perfumar cada lugar onde houvesse um de seus servos, seus amigos, suas testemunhas. Destarte, ou há uma missão integral, inteira, íntegra, cheia do Espírito Santo e do poder ou simplesmente não há missão.

Há de ser obrigatoriamente a missão imbuída da imensa pretensão de transformar toda a realidade onde se insere sob pena de ser sufragada pelos desejos deste mundo. Há de ser a missão o centro onde gravitam os objetivos de vida do que serve ao Mestre, sendo impossível manter-se sob dois senhorios, o de Mamom e o de Cristo. Sob este prima, não existe teologia da prosperidade, posto não ser teologia, cristianismo de consumo por não ser cristianismo e missão parcial, sob pena de não ser missão.

Aceitar o termo Missão Integral é o mesmo que passarmos a designar o Evangelho de Evangelho Integral para diferenciar de um evangelho parco, mirrado e raquítico ou, no mesmo diapasão, surgir a Igreja Integral, o Cristão Integral até chegarmos ao Pai Integral, Filho Integral, Espírito Santo Integral, em contraposição a visões pobres e parciais de suas inerências.

Reconheço que é preciso dizer de fato o que é missão. Que não basta estar no mundo mas é preciso transformá-lo. Que é impossível pregar o evangelho sem amor, visto que um não vive sem o outro e que amor sem evangelho se reduz em paixão efêmera assim como evangelho sem amor redunda em proselitismo religioso.

Para nós que fomos salvos pela graça, poderia ser dispensável mas é preciso de fato dizer que fé sem obras é morta, e que a tão simples exigência do Rei é "que pratiques a justiça, ames a fidelidade e andes humidelmente com seu Deus" (Mq 6:8).

Esta é a nossa missão. Indelegável, inadiável, imediatamente necessária eis que "a criação geme com dores de parto pela manifestação dos filhos de Deus" (Rm 8:22).

sexta-feira, 2 de abril de 2010

O Carnaval de Salvador




Seus filhos padecem de dor enquanto vestes um sorriso. Quão hipócrita folia quando não se tem o que comemorar, quando nas festas se oferecem frutos da injustiça colhidos nas sendas do destemor à Justiça e ao Direito.

Alço minha voz para desalojar de minh´alma um grito entranhado de dor. Não são sorrisos que vejo ao meu redor mas lágrimas. Os sons que escutam os mais atentos não são dos instrumentos que ecoam em meio à multidão mas da mãe que já não pode suprir com seus seios a fome dos seus, do pai que esbofeteado pela miséria se curva e prostrado assiste ao maior Carnaval do Mundo, alegrias e metáforas das vergonhas de uma terra que teima em ser cruel, apesar de tudo que Deus lhe deu. Este é o Carnaval no Brasil. Este é o Carnaval na Bahia.

Tantos podem dizer: mas esta é a alegria do povo! Daí-lhe ópio, ou melhor, pão e circo. Ao pão denominemos Bolsa-Família, ao circo Carnaval e ao imperador aquele a quem mais lhe convier entre os tantos déspotas e coronéis que desfilam por nossas passarelas.

Outros ainda podem dizer: mas esta (o Carnaval) é a celebração da diversidade de um povo! Não há qualquer diversidade na Bahia. A Bahia é majoritariamente negra (em torno de 80% de sua população) e esta negritude é teratologicamente pobre (51% da população!). Celebremos a diversidade de formas e discursos para ludibriar um povo.

Ao povo baiano, negro e pobre em sua maioria reservam-se os guetos culturais e religiosos, que quando expressivos, são tomados de assalto pela reduzida mas (pre)potente elite, fazendo daqueles tão somente cultores de um passado histórico.

O Carnaval de Salvador é hoje somente mais uma das várias matizes da desigualdade nacional.A elite branca, rica e feliz paga centenas, milhares de Reais por 3 ou 4 dias de festa enquanto o populacho se contenta com o mesmo tanto para sobreviver por meses e meses. Isto é que é folia!

No tocante ao exército de famintos que rasteja seu ventre na passarela da ignomínia nacional, e se alimentam das migalhas que caem da mesa dos senhores da festa, atraem a atenção os chamados “cordeiros”. Homens, aos milhares, seus rostos ossudos revelam a (bela mas cruel) face da Bahia. Esgueiram-se aos montões, como se não tivessem rosto, alma ou coração, São andróides construídos aos montes pelas máquinas da repulsiva e exacerbada ganância, que faz por merecer tal redundância. Estes homens passam horas por dia durante o Carvaval, segurando as cordas que separam a “horda” daqueles que podem se dar ao luxo de desfilar com seus abadás. Dentro das cordas, a tão famigerada elite, do lado de fora aqueles que criaram o Carnaval mas para quem o Carnaval já não é criado.

Estes “cordeiros”, que assemelho aos capatazes, pois são povo contra povo, negro contra negro, recebem R$ 14,00 ao dia! Isto mesmo, um integrante de bloco paga por sua folia o equivalente a algo em torno de 20 (vinte) cordeiros, no mínimo!!! O espelho da desigualdade que teima em colocar frente a frente faces tão iguais, irmãos, que como em tantas de nossas cidades, são incitados a se insurgirem contra os seus e derramarem o sangue que lhes é tão próprio responde mais uma vez aos bruxos da vez: existe alguém mais cruel do que eu? Não, não existe.

Enquanto isso, o guardião dos ideais de um povo e aquele a quem confiamos a única oportunidade de com mão forte mudar esta realidade, o Estado Brasileiro, através da Prefeitura de Salvador, despende R$ 20 milhões na organização do Carnaval, deste tipo de Carnaval que citei logo acima.

Pode-se rechaçar dizendo que isto é um investimento. Concordo. Mais um investimento para que se perpetue a desigualdade, para que se mantenham frouxos os braços de um povo, para que se cale a voz daqueles que sofrem a realidade da dura e tão horrenda miséria. Já que o Carnaval é um grande negócio como se propala, por que não se reflete este sucesso em distribuição de renda e justiça social?

Como não bastassem tantos erros e maldades a envolver o que vemos hoje no Carnaval de Salvador, soma-se a estes a incompetência na gestão da coisa pública.

Ouça bem: os seis dias de Carnaval em Salvador renderam à Prefeitura em cotas de patrocínio 1/3 (R$ 4 mi) do que rendeu o retumbante Festival de Verão (R$ 12 mi), que durou três dias. Você sabe o que é o Festival de Verão? Os números impressionam, ainda mais quando se imagina que vivemos em um país em que se louva o pagamento de um famélico instrumento assistencialista barato (barato mesmo!!!) no valor de R$ 100,00. Com o “prejuízo” do Carnaval, a Prefeitura (que teima em dizer que é de participação popular) poderia custear nada menos que 160.000 Bolsas-Família ou este mesmo benefício a quase 27.000 famílias durante seis meses. É uma vergonha a incompetência pública e notória ao gerir uma marca tão forte e expressiva como o Carnaval de Salvador.

Com tudo o que disse acima não quero roubar a alegria de tantos ou ser estraga prazeres. Pelo contrário, lutar pela Justiça Social e pela dignidade de um povo é, de fato, fazer com que muitos dos filhos desta pátria possam ter a sua alegria, que fora roubada pelo escárnio dos poderosos, trazida de volta. Antes, durante e depois do Carnaval.

domingo, 28 de março de 2010

A importância do homem nos processos de mudança organizacional



O modelo econômico ultracompetitivo das economias modernas impõe muitas vezes a necessidade de processos autômatos na relação homem x trabalho. A velocidade e o pragmatismo com que são conduzidos os negócios no mundo moderno impedem considerações de ordem pessoal e emocional.

O devido equilíbrio nesta relação somente se dá na resistência, muitas vezes inglória, do homem contra o poder do capital.

A relação de dependência não é da empresa em relação ao homem, ao capital humano, mas do homem em relação à empresa, visto que aquele percebe que somente na relação com esta se realiza e se perfaz enquanto homem.

Esta relação quando em desequilíbrio deturpa os fundamentos da condição humana, posto que a ficção jurídica domina a individualidade a tal ponto de substitui-la. Daí surgem os indivíduos conhecidos como o "Fulano da empresa A", o "Beltrano da empresa B".

Eis que no descompasso das relações pessoais com as relações econômicas, a pessoa jurídica ao tomar decisões que impactem a vida dos indivíduos, é percebida muitas vezes como injusta, perpetrando verdadeiros atos de traição aos olhos dos indivíduo.

Tal estado de coisas impõe consequências nefastas, das quais vale destacar:

- O homem e a perda de sua inerente humanidade. Os conflitos cadas vez mais crescentes haja vista a aceleração dos processos de mudanças organizacionais tais como fusões, incorporações, concordatas e falências.

- A destruição da auto-imagem nos processos de desligamento. O rompimento repentino de qualquer relacionamento e suas consequências emocionais.

- A sujeição do individual ao coletivo. A necessidade de aceitação ao grupo como razão para submeter-se ao vilipêndio moral. O fim do escrúpulo e da escala individual de valores para participação no "clube".

Daí que o grande questionamento é: que tipo de homens restarão no futuro? Que podemos dizer do "homo laborans" (homem que trabalha)? Estaremos em meio à uma nova luta por direitos nas relações de trabalho, só que agora, diferente do momento pós revolução industrial, os direitos não serão mais de ordem objetiva/material mas subjetiva/emocional?

Portanto, claro está que é mister que busquemos um modelo de desenvolvimento sustentável, não somente no que diz respeito ao homem e à natureza mas no tocante ao homem na relação com o próprio homem, considerando-se este sempre enquanto titular de direitos.

Veremos o que nos espera.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ser humano



O que é "ser humano"? O que é ser "desumano"?

Não, não, não quero saber sobre os compostos químicos de cada átomo ou de cada molécula que perfazem o corpo humano. Não quero o substantivo mas o adjetivo.

Não aceito que o reduzam a um amontoado de reações casuais que depois de bilhões de anos desaguaram num animal que tem um de seus órgãos capaz de, com descargas elétricas e reações físico-químicas, amar. E muitos já disseram que o ser humano se caracteriza por este detalhe: amar.

Mas ser humano não é somente amar. É odiar também. Se os animais não amam, também não odeiam portanto, odiar é tão característico do ser humano quanto amar. Ou até mais.

Ser humano assim, significa por vezes ser cruel, maldoso, insidioso, pérfido, loquaz, insano, coisas que somente os humanos podem ser.

A tensão portanto, é dialética, entre um "ser humano" considerando suas qualidades e virtudes e um "ser humano" com seus defeitos e paixões. Ambos portanto, são miserável e irrediavelmente, humanos.

Destarte, o conceito de "desumano", tem em seu bojo a valoração moral, ou seja, desumano é o que o ser humano em determinado momento histórico o considera como tal.

Isso me impinge o dever então de dizer que desumano são sim os animais, as plantas, os minerais, que iniciam e terminam sua existência com o único propósito de cumprir seu papel no ciclo de vida da natureza.

E portanto, o ser humano, ao ser desumano, nada mais é do que o humano ao extremo, o super-homem de Nietzsche, "que tem em si o sentimento de potência, a vontade de potência, a própria potência", que está liberto das amarras do cristianismo que segundo o mesmo Nietzsche o enfraquece, o vitupera, permitindo-o ser homem, ao máximo!

E é por isso que precisamos de Deus.

Perdas

Perdi

Amores por esquecer e deixar de amar.

Tempo em querer o que não devia, esquecendo-me do que deveria querer.

Dinheiro ao usá-lo no que não era pão.

Perdi

Ilusões as mais doces e sutis.

Sonhos, pueris.

Desejos, não tão celestes nem tão divinais.

Perdi

Amigos, engolidos pelas fendas que o tempo abre em nossos caminhos.

Inimigos, por desistirem de mim, eu desistir deles ou por ambos desistirem da inimizade.

Ideais, ao não acreditar mais neles e nem eles em mim.

Perdi

A vida, pouco a pouco, nas esquinas das frustrações.

A morte, por saber que jamais vou encontrá-la pois, quando ela estiver chegando, eu estarei partindo.

A graça, por ver que a desgraça é gratuita mas a graça tem um preço muito alto.

Perdi,

Perdi,

Perdi,

E por acreditar que vale a pena lutar por algo que ainda não perdi, mesmo sem saber bem o que é, só não perdi a fé.

Biografia de José Raimundo da Silva - Um sertanejo

José Raimundo da Silva era tão irrelevante que não vale nem a pena escrever sobr...