sábado, 15 de junho de 2013

Pelo protesto


Do conforto de minha sala em um escritório de luxo em São Paulo ouço colegas a vociferar insultos ao grupelho, como descrito em editorial da Folha de São Paulo, que insistentemente tem protestado contra os aumentos das passagens no transporte público.

As reclamações contra os impactos desses movimentos tem uma causa única, comum, perversa: o individualismo que se impõe como a grande característica de uma sociedade que tem, cada vez menos um rosto, uma causa, um grito comum. Não nos sensibilizamos com a dor do outro quando esta não nos dói pois somos verborrágicos na solidariedade e tetraplégicos na ação.

Este individualismo na avaliação do assunto extrapola para a mídia, até outrora refratária aos ideais e práticas do movimento mas que começa a mudar de lado ao perceber que a violência perpetrada pelos agentes do Estado não ataca pessoas mas ideais da humanidade como a liberdade de expressão e de reunião, tão solenemente consagradas na Constituição Federal e tão porcamente afrontada nas ruas.

Vejo reações apaixonadas contra os protestos pelo impacto no trânsito, este trânsito tão castigado em uma metrópole como São Paulo que tem linha vergonhosamente menor (aproximadamente 70 km) que cidades como Santiago (103 km), Cidade do México (202 km), Seul (287 km) ou Nova Iorque (1355 km, aí já é demais...). Esta situação vexatória expõe nosso estado de exceção, a virulência com que diuturnamente somos castigados mas que se transveste com variáveis etimológicas como "limites de orçamento" ou "eleição de prioridades" pelos governantes de plantão.

Somos vítimas de um Estado imenso com resultados pífios, em seus tributos um Leviatã faminto que com sofreguidão confisca a renda de um povo conduzido por entidades que assumem posições messiânicas que em suas promessas quiçá metafísicas só faltam dizer L´État c´est moi! (O Estado sou eu!).

Não! O Estado não são prefeitos inertes e insensíveis ou governadores saídos de um momento em que a baioneta era a Lei e que abraçam bandeiras de Guerra ao Terror no melhor estilo George Bush. L´État ce n´est pas moi. C´est nous! (O Estado não sou eu. Somos nós!).

Apoio este movimento e não as suas virulências, que não são suas mas de agentes isolados que não compreendem a força das palavras e do ato de amor que representa a luta por uma causa que é maior do que si. Esta luta é maior do que de seus manifestantes. É a luta de um povo, de um país que clama por justiça social. É a luta de uma humanidade que ainda tem resquícios de Deus. Deus este que protagonizou o maior protesto da história ao abalar as bases de nosso comodismo com nossa condição humana através do protesto perpetrado pelo sacrifício de Jesus Cristo, pendurado no cru madeiro pela mesma violência daqueles para os quais a melhor resposta ainda é a dor e a morte.

Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer!

Marcos Sabiá