domingo, 24 de março de 2013

Até quando somente um exemplo?


Ao contar-nos histórias de cristãos perseguidos, presos e mortos pela causa de um Evangelho ainda incipiente, o Novo Testamento nos inspira, constrange, impinge a nós cristãos de um país democrático e relativamente pacífico, um sentimento de saudosismo, pequenez, quiçá de vergonha.

Não raramente, líderes da cristandade tupiniquim quando investigados e denunciados pelo Ministério Público, Receita Federal ou órgãos afins por desvios de conduta, utilizam-se do expediente de recordar estas perseguições que forjaram a nossa fé, como que a comparar seus pérfidos crimes aos vitupérios sofridos pelos primeiros cristãos.

Mas o Evangelho de Jesus Cristo não permanece vivo e vicejante por conta desses desmandos. Sua Mensagem envolve nossas vestes, assim como a fumaça que impregna o Santo Lugar, pois vivemos a presença de seu Espírito e este mesmo Espírito ainda inspira homens e mulheres a oferecerem sua vida como libação por amor à Mensagem de Salvação do Evangelho.

É por esta Mensagem que Jose Dilson Alves da Silva e Zeneide Novais, depois de 22 anos na África, estão presos no Senegal sob acusação de tráfico e aliciamento de menores desde 06 de novembro de 2012. 

A frágil acusação se baseia na denúncia de um pai que, após seu filho abandonado na rua ter sido recolhido pela missão, motivado por questões religiosas, ardilosamente utilizou-se do sentimento religioso da maioria muçulmana para expor estes servos de Deus a condição de criminosos, apesar do laicismo do Estado senegalês.

Já são meses de silêncio da Justiça local e de inação de seus representantes legais. 

Meu clamor por este casal de heróis da fé se confunde com uma tristeza profunda por mim, por meus pares, meus contemporâneos que, se não se envolvem em escândalos que afrontem o Evangelho, escondem-se, disfarçam-se, tergiversam quando o assunto é entregar a própria vida, negar-se a si mesmo, tomar a sua Cruz e segui-Lo.

Jose Dilson e Zeneide explicitam minha necessidade de viver um Evangelho mais intenso, mais profundo, mais arriscado, num permanente estado de quase morte, para que assim como eu compartilhe em meu corpo a morte de Cristo, veja operar em mim também o poder de Sua ressurreição.

Quero ser como Cristo, em meu corpo suas marcas, em meu caráter sua graça, em meu coração seu bálsamo a aliviar-me de minhas idiossincrasias. 

Oro, canto e clamo que seja assim domingo após domingo, mas quando leio sobre Dilson e Zeneide do conforto de meu apartamento, vejo como estou distante do Mestre, como minhas segundas-feiras revelam a tibieza de minhas decisões dominicais.

Livra-me do corpo desta morte! Esfrega-me em face a verdade de que o bem que eu quero, não faço, mas o mal que eu não quero, esse eu faço.

Miserável homem que sou. Homem que vê em Dilson e Zeneide um exemplo. Até quando somente um exemplo?

PS Ore e mobilize-se por Jose Dilson e Zeneide - marcospaulosabia.blogspot.com

segunda-feira, 11 de março de 2013

Sobre alguém que não merece a escrita. Sobre algo que merece.


A eleição de Marco Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias - CDHM da Câmara impressiona, envergonha, vilipendia e expõe as excrescências de dois relevantes sistemas nacionais: o Político e o Religioso.

O Político pois a eleição para a presidência da CDHM, como quase todas as eleições em sistemas perversos e que prescindem da participação popular, se deu por motivos espúrios: a baixa e vil troca de cargos existentes no Congresso Nacional.

O PSC "herdou" a CDHM, ainda que não fosse a sua predileta, pois a mesma traz repercussão popular mas não orçamento, este mais valorizado que aquele por esta sub-espécie do gênero humano chamada "politicus brasiliensis"

O PSC serviu de barriga de aluguel e plataforma política para os interesses do governo federal e agora, não consegue sequer indicar um nome de mais relevante jaez que Marco Feliciano, o homem que afirmou que a África é fruto de maldições de Noé e que a AIDS é o câncer gay. Não dá para levá-lo à sério pois ele não é um homem sério. 

Feliciano junta-se aqueles que desejam fazer do PSC o "Tea Party" da política tupiniquim. Falam em nome de cristãos e de um Cristo que mal conhecem. 

Quanto ao vexame Religioso, Feliciano explora o cristão mais simples exigindo ofertas vultosas, flerta com com a Teologia da Prosperidade, cobra pequenas fortunas para pregar em eventos organizados por seres da pior espécie e faz seus princípios esposados pelos piores cristãos norte-americanos. 

Feliciano se refestela na lavagem dos porcos e olha aos céus, com seus dentes manchados pelo lixo despejado pelos cristãos do Norte. Feliciano se alegra pelo olhar de aprovação de pregadores brancos que, segundo ele, veem em sua pregação uma veemência que por lá somente os negros tem. Negros com os quais ele prefere não se identificar, pois quiçá ainda carreguem a maldição de Noé.

A indignidade de Feliciano no entanto não pode legitimar os atos de violência e intolerância perpetrados por integrantes das minorias. Ainda que esdrúxulos, seus argumentos devem ser rebatidos no campo das ideias, único local onde se aceita algum tipo de batalha em uma democracia.

Seus argumentos podem ser veementemente rebatidos mas jamais seus direito de dizê-los, sob pena de constituir-se não mais a minoria dos gays ou negros mas sim a dos neurônios.