domingo, 17 de maio de 2009

As oliveiras do Monte


Descortinou-se o palco desta vida para que encenasses teus últimos atos
Perpassaste pela vida, no entanto, sem adornos que obnubilassem teu verdadeiro ser
Eras homem e era Deus. Atraía-me por tua divindade latente em teus atos e palavras
Constrangendo-me a adorar-te. Compungindo-me o peito para que rebentasse em palavras de louvor.

Me deste o carinho de um pai, o amor de uma mãe, o ombro de um amigo.
Foste assim a imaculada e sublime encarnação de Deus
Derretendo meu coração petrificado pelas desilusões
Ferido pelas mazelas de minha vida.

Aquela noite no entanto tornara-se mais tenebrosa então
Teu semblante já não transmitia o mesmo vigor
Pois agora deformado pelo sofrimento da solidão
Solidão esta tão cruel que lhe impingira esta jornada

Sofreste pela ausência da mãe em tuas primeiras noites ao relento
Saudades do conforto do lar, da companhia dos irmãos,
mas nada comparável à ausência do Pai que o acompanhara desde a eternidade
Acrescentando a tua vida a palavra abandono.

A iminência da cruz em que te verias sozinho, cruelmente abandonado
Teve assim o condão de esvair de teus olhos todo brilho,
De teu semblante a alegria perene,
De teu coração a esperança

Pediste-me que deixasse-te a sós com teu pai
A um tiro de pedra a observar tuas palavras de sofrimento
Teus clamores, teu pedido por clemência
Quiçá extrair do Pai um ato de misericórdia

No entanto pude observar a tristeza a consumir-te
O esgotamento após tuas petições serem rechaçadas
Tiveste assim a real percepção do desespero humano ao pedir e não ser atendido
Ao ser constragido em seus desejos pela vontade divinal

E pude assim então notar a magnificência de tua glória
O momento sublime de teu evangelho
A junção do homem em Deus
O gélido suor de teu corpo mortal misturado ao ardor de teu sangue divino.

Quando então percebí que terminaste tuas preces
E que em teu desiderato conheceste o fracasso
Voltei a deitar e, fingí dormir
Para que como em um sonho tudo um dia terminasse
E ao acordar pudesse vislumbrar o meu Deus, o meu amado,
voltando em meio às Oliveiras do Monte.

Marcos Paulo Sabiá

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