A imagem do deputado asseverando como desprezível a opinião pública brasileira impõe-nos algumas necessárias reflexões. Algumas leituras podem ser depreendidas da famigerada frase: “estou me lixando para a opinião pública brasileira”:
1 – O nobre representante dos interesses nacionais está acima das pressões populares e, embasado na altivez de seu mandato, profere esta célebre frase como que a explicitar que antes dos interesses volúveis do povo, está a defender a incólume Justiça, sim, em letras maiúsculas, pois não a instituição e o aparato judicial mas o sentimento mais nobre e puro da humanidade, misto de divino e humano.
2 – O deputado é um picareta de mancheias, um salafrário, um ser desprezível e sem escrúpulo mas com uma sinceridade digna de punição na terra dos hipócritas caras de pau. Me parece ingênuo não interpretar desta forma.
No entanto, como não me permito vencer pelo mal, mas antes vencer o mal com o bem, me arrojo contra o disparate transvestido de Estado Nacional, mais comumente chamado de Brasil.
Ainda que me pareça cada vez mais claro que o justo e o bom sejam utopias, ainda que reais, momentâneas, entendo que nossa luta contra os gigantes moinhos de vento possam ter melhor desiderato se nos centrarmos em um simples dispositivo denominado voto distrital.
A idéia básica do voto distrital é restringir o número de candidatos a um deteminado espaço geográfico e eleitores, como que naquele determinado local houvesse uma pequena eleição majoritária a determinar quem seria o candidato eleito por aquela localidade.
Imaginemos que em uma cidade como São Paulo, ao invés de termos centenas de candidatos a vereadores (diga rápido, em quem você votou na última eleição?), teríamos 55 distritos distribuídos pela cidade, sendo que cada um deles seria composto por algo em torno de 100.000 a 150.000 eleitores. Santo Amaro, por exemplo seria dividido em em torno de 10 distritos.
Os críticos deste sistema o atacam dizendo que este formato cria determinados “currais eleitorais”. Caro amigo que lê estas mal traçadas linhas, você realmente acredita que não temos currais hoje?
Dos grandes males de nosso atual sistema proporcional, elenco alguns dos mais nefastos:
1 - O voto proporcional estimula a eleição de personalidades, celebridades, indivíduos sem noção alguma de seu papel de representante das vontades do povo, somente para abocanhar votos.
2 – Este sistema então chega a eleger candidatos a deputado federal, estadual ou vereador com 100, 200 votos em SP, no rastro destas celebridades. Lembram do “Barata”, eleito no embalo da Havanir Nimitz? Você sabe quem o seu voto de “protesto” no Clodovil elegeu?
3 – Custo de campanha. Enquanto uma eleição para senador na Inglaterra custa em torno de R$ 40.000,00 uma eleição para vereador em São Paulo não sai por menos de R$ 500.000,00. Quem paga por isso? O candidato? Suas doações de campanha? Escusos grupos criminosos/econômicos com escusos interesses criminosos/econômicos?
Quando reflito e ainda percebo que países desenvolvidos como EUA, Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha, Holanda etc já adotam o sistema proporcional, parece-me soar que nós, brasileiros, somos os únicos seres brilhantes de toda terra!!!
Esta apologia do voto distrital é uma singela tentativa de me apegar a algo factível, real, que abandone a crítica vazia e sem sentido e apresente possibilidades de salvação a nossa combalida ética pública.
Calarmos-nos fazem-nos cúmplices das imundícias nacionais.
Gritarmos em meio às praças incomoda.
Apegarmos-nos a propostas reais e concretas de mudança, enche-nos o peito de esperança e afaga o coração daqueles que ainda embalam a pueril quimera de um país mais justo e melhor.
Non ducor. Duco!
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