domingo, 17 de maio de 2009

Que é a verdade? Quid veritas est?


Talvez esta questão não tenha ecoado em teu ser com todo o poder e reverberância possível mas pare e reflita comigo sobre esta questão: o que é a verdade?

Esta pergunta de Pilatos, emanada da alma de toda humanidade, encerra séculos de caminhada do homem sobre a Terra.

Se fores questionado quanto à verdade, terás a mão a realidade para conceituá-la e assim como Vico dizer "verum ipsum factum", amoldando-se ao pensamento mais comum de que a verdade é aquilo que está conforme a realidade. Mas será esta a verdade?

A realidade é nada mais que o substrato de fatos, valores e informações que compõem o mundo inteligível. Ressalte-se que esta realidade é fruto de fatos temporais, valorados por um grupo que dispõe de dadas informações, daí que chego à conclusão de que não pode a verdade resumir-se a isto somente.

Primeiro porque os fatos, localizados que estão no tempo podem sofrer a atuação deste. O fato de não conseguirmos ir à Lua durante milhares de anos deixou de ser verdade há menos de meio século. Portanto, restringir a verdade a fatos empobrece-a, limita-a, reveste-a de um relativismo impróprio à verdade suprema e imutável que buscamos.

A verdade também não pode restringir-se a coisas, considerando-se que a verdade não pode ser materializada. Materializá-la significa restringi-la ao espaço. Feito isto, fazemo-la relativa pois a partir do momento que a verdade restringe-se à matéria deve necessariamente ocupar um dado espaço em dado tempo e, sendo assim, relativiza-se.

A verdade não pode tampouco construir-se sobre valores, sob pena de erigirmos dogmas, axiomas que em nada contribuem na busca da verdade. Os valores são construções lógicas de um dado grupo humano de acordo com suas crenças, circunstâncias as quais este grupo assume e as faz suas, variáveis assim de acordo com cada grupo e assim mutáveis no tempo e no espaço, de acordo com aquelas variáveis. Construir a verdade sobre valores significa erigi-la sobre um edifício erguido pelas mãos dos homens e, portanto, passível de destruição.

Por fim, a verdade não pode erigir-se sobre as informações reunidas em dado momento, considerando-se que estas possam ser reais ou não, sempre incompletas, a levar-se em consideração que o desenvolvimento do conhecimento há de demonstrar que em todo grupo de informações a parcela de ignorância anterior demonstrar-se-á cada vez maior. As informações das quais dispomos hoje a respeito do descobrimento do Brasil fazem com que muito do que acreditávamos verdadeiro se demonstrasse hoje em mentiras e falácias.

Assim sendo, este raciocínio me leva a crer que a verdade suprema deva ser: eterna (não restrita ao tempo), imaterial (não restrita ao espaço), absoluta (imarscescível e incontestável) e plena (completa e acabada).

Daí que a verdade suprema, eterna, imaterial, absoluta e plena somente pode encontrar guarida na excelência do Deus Eterno que se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade. No momento em que Jesus Cristo reinvidicou a si mesmo toda a verdade ao dizer ser ele mesmo a verdade revelou-nos o segredo de toda existência, descortinou-nos a única possibilidade de revelar-nos a verdade. Para ser completa, ela teria de estar em Deus, desde a eternidade, revelada em Cristo.

É Ele a totalidade indivisível de Hegel, a fonte de todas as verdades de Agostinho, a verdade dos fatos de Vico, a resposta à questão de Pilatos (Quid veritas est?). Eis a verdade encarnada, exaltada em glória, santa, pura e imaculada. Eis a verdade que não cessa e que em si encerra todo o poder e autoridade nos céus e na terra. É Ele, e somente Ele poderia ser, a verdade, nada mais que a verdade. Esta espada afiada que sai de sua boca, ainda que por vezes envolta nas névoas da dúvida e do mal, há sempre de rasgar os céus fazendo divisão entre alma e espírito, juntas e medulas, e por fim, vencer todo o engano quando vier ela, a verdade, sobre as nuvens com poder e grande glória no momento em que todo o joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo, a verdade, é o Senhor.


Marcos Paulo Sabiá

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